terça-feira, 27 de março de 2012

Como devemos ver as coisas?

Quando comecei a escrever adotei uma postura incisiva, crítica, que provocasse no leitor o interesse em se aprofundar sobre os temas, discussões propostas. Com o tempo percebi que a grande maioria dos leitores esportivos prefere discussões menos abrangentes ou filosóficas, mais focadas no esporte em si, fugindo de questionamentos sociais.
Em 2014 sediaremos uma Copa do Mundo e, pelos exemplos referentes à organização e contas do Panamericano do Rio de Janeiro, a perspectiva não é das melhores.
Em 2007 fiz coluna sobre a “farra do Pan”. A previsão orçamentária inicial para esse evento era de US$ 180 milhões. Após tudo “pronto” sob a alegação de um legado olímpico, a conta final ultrapassou o valor de US$ 3,8 bilhões, muitos dos quais, de origem pública e sem a devida previsão exigida, amparada por decretos e atos administrativos. 
Atos decorrentes desse nosso conhecido “jeitinho”, embora legais, podem ser considerados morais?
Lembremos que o parque aquático Maria Lenke, por exemplo, o maior do país, não está dentro das regras do COI para ser palco de evento olímpico e não poderá ser reformado, devendo outro ser construído. Nessa senda, o Engenhão (que ficou para o Botafogo), está apenas sediando partidas de futebol e todos os caríssimos equipamentos de ginástica estão há anos sem manutenção, enferrujando, enquanto poderiam estar sendo utilizados por escolas locais.
O Tribunal de Contas carioca apurou os desvios endossados pelo governo dos “sanguessugas” em CPI e nada ocorreu. Lá chegou-se ao valor final de US$ 3,8 bilhões.
Em Brasília, o presidente do COI, Nuzman, chegou a adentrar à audiência da CPI e, ao tomar assento, informou que nada responderia por estar ocupado e ter outros afazeres. Nada foi feito. Pergunto: como alguém vai do Rio à Brasília apenas para justificar seu não-depoimento?
Sobre a Copa no Brasil temos estádios sendo construídos em locais onde os times não levam tanta torcida a campo. Estádios aliás que receberam regalias, isenções de impostos, doações de terrenos, sendo a conta final, raramente inferior à bagatela de um milhão de dólares. Só por uma questão comparativa, o novo estádio da Juventus (que será palco de final européia de clubes em 2012) custou menos que US$ 300 milhões.
Mas é claro, a economia precisa ser movimentada, mesmo que impulsionada por calote branco, como sugeriu em vídeo aos seus pares o Secretário do Paraná para a Copa.
Infelizmente temos ufanistas irresponsáveis que não se preocupam com a herança maldita das farras da Copa e do Pan, mas cada um que paga impostos e nada vê em retorno, sabe bem como devem ser vistas as coisas.
Ainda dá tempo para que a sociedade brasileira se organize, mobilize e conscientemente, negue-se a sediar a Copa neste país!


http://www.radioparanaclube.com.br
http://www.bemparana.com.br
http://www.paranautas.com
http://www.bolaredondabrasil.blogspot.com